Quando você pensa em Napoleão Bonaparte, provavelmente imagina um general de capa esvoaçante, montado num cavalo branco, avançando em meio à fumaça da batalha. Pois é: por trás dessa imagem quase cinematográfica existe uma historia com cavalo muito concreta – a de Marengo, o garanhão árabe que o acompanhou por mais de 15 anos de campanhas, derrotas, vitórias e fugas apressadas.

Entre tantas histórias de cavalos reais, Marengo se destaca porque mistura tudo: guerra, resistência, lenda, mito, esqueleto em museu e até… casco transformado em objeto de luxo. Sim, esse cavalo rendeu história até depois de morto.

Quem foi Marengo, afinal?

Marengo foi um cavalo de guerra de Napoleão Bonaparte, de raça árabe, pelagem tordilha clara (aquele “branco sujinho” típico dos tordilhos) e tamanho surpreendentemente pequeno para um cavalo de batalha: cerca de 1,45 m de altura, o equivalente a 14,1 mãos.

Ele foi comprado no Egito, em 1799, quando tinha por volta de seis anos, e Napoleão ainda não era imperador – “apenas” comandante do exército francês.

Ou seja, essa historia com cavalo começa muito longe da França, no calor das campanhas napoleônicas no norte da África.

Como ele ganhou o nome de Marengo?

O nome não é aleatório:
Marengo foi batizado em homenagem à Batalha de Marengo, travada em 1800 no norte da Itália, perto da aldeia de Marengo. Nessa batalha, os franceses derrotaram os austríacos e garantiram o controle do norte da Itália – uma vitória essencial para consolidar o poder de Napoleão.

Depois dessa campanha decisiva, Napoleão resolveu homenagear o cavalo que o havia carregado durante o confronto: “A partir de hoje, você se chama Marengo.”

Pronto: nascia oficialmente essa história de cavalo real que atravessaria a Europa inteira.

Pequeno no tamanho, gigante em resistência

Uma das coisas mais legais dessa historia com cavalo é o contraste entre a imagem que a gente tem de um cavalo de guerra e o Marengo real.

Ele não era um “tanque equino” musculoso de 1,70 m. Pelo contrário:

  • Tinha cerca de 1,45 m, baixo para um cavalo de batalha.
  • Era um árabe, raça conhecida por resistência, coragem e inteligência.
  • Tinha temperamento considerado confiável e constante – nada de loucura cega, e sim bravura com cabeça boa.

Marengo não ganharia concurso de “cavalo mais imponente”, mas ele poderia ganhar fácil o prêmio de “cavalo que aguenta o tranco”.

Batalhas, balas e oito ferimentos

Se essa é uma das grandes histórias de cavalos reais, é porque Marengo literalmente viveu no olho do furacão. Ele acompanhou Napoleão em algumas das campanhas mais importantes:

  • Batalha de Marengo (Itália, 1800) – a que deu o nome ao cavalo.
  • Austerlitz (1805) – a “Batalha dos Três Imperadores”, uma das maiores vitórias de Napoleão.
  • Jena-Auerstedt (1806) – vitória francesa sobre os prussianos.
  • Wagram (1809) – outra batalha gigantesca no contexto das Guerras Napoleônicas.
  • Waterloo (1815) – o começo do fim para Napoleão.

Ao longo dessa carreira militar, Marengo foi ferido oito vezes em combate – e continuou servindo.

O cavalo:

  • Levava tiros, estilhaços, cortes.
  • Enfrentava canhões, fumaça, gritos e caos.
  • E mesmo assim nunca derrubou Napoleão, segundo os relatos.

Se isso não é material para uma boa historia com cavalo, eu não sei o que é.

Galopes insanos: 80 milhas em 5 horas

Além das batalhas, tem outro detalhe bem impressionante na biografia de Marengo: os famosos galopes de longa distância.

Napoleão usava o cavalo para percorrer rotas militares entre cidades em tempo recorde, como o trajeto entre Valladolid e Burgos, na Espanha: cerca de 128 km, completados em torno de 5 horas.

Pensa nisso:

  • Terreno irregular
  • Clima nem sempre amigável
  • Sem ferradura esportiva moderna, sem suplementação chique, sem piso perfeito

É puro “cavalo raiz”: pulmão, casco forte e muita disposição. Mais um ponto que faz dessa uma das histórias de cavalos reais mais impressionantes da época.

A retirada de Moscou: frio, fome e sobrevivência

Outra parte forte dessa historia com cavalo é a campanha da Rússia, em 1812.

Quando os russos atacaram a estrebaria de Napoleão, Marengo estava entre os 52 garanhões pessoais do imperador que fugiram na confusão. Ele sobreviveu à famosíssima retirada de Moscou, um dos episódios mais duros e trágicos da carreira de Napoleão, com soldados morrendo de frio, fome e exaustão.

Em termos de “nível de dificuldade” numa historia com cavalo, sobreviver à campanha da Rússia está no topo da lista.

Waterloo: o último galope imperial

Em 1815, chega o momento mais dramático dessa história de cavalo real: a Batalha de Waterloo, na Bélgica – a derrota definitiva de Napoleão.

Marengo estava lá. Ele levou o imperador até o campo de batalha e, mais uma vez, saiu vivo do caos – mas, dessa vez, não saiu com o mesmo cavaleiro no comando. Marengo foi capturado pelos britânicos após a derrota dos franceses.

Imagina a cena:
Um cavalo que passou a vida inteira cruzando a Europa com Napoleão agora vira troféu de guerra nas mãos dos vencedores.

De cavalo de guerra a celebridade britânica

Depois de Waterloo, Marengo foi levado para o Reino Unido por William Petre, 11º Barão de Petre, e depois vendido ao tenente-coronel Angerstein, da Guarda de Granadeiros.

Lá, Marengo viveu uma espécie de “aposentadoria” como:

  • Garanhão (sem muito sucesso como reprodutor, aliás).
  • Atração curiosa, já que era “o cavalo de Napoleão” – algo como uma celebridade de quatro patas.

Ele morreu já idoso, com cerca de 38 anos, em 1831 – uma idade respeitável para qualquer cavalo, ainda mais para quem levou tiro, passou frio na Rússia e correu 128 km em 5 horas.

E o que aconteceu com o corpo de Marengo?

Aqui a historia com cavalo ganha um tom meio sombrio, mas muito curioso.

Depois da morte de Marengo:

  • Seu corpo foi enviado para ser preparado e transformado em esqueleto articulado.
  • O esqueleto foi exibido em museus militares britânicos ao longo dos anos.
  • Hoje, ele está no National Army Museum, em Londres, onde as pessoas ainda podem ver o “Marengo original” – ou pelo menos seus ossos.

Mas não para por aí…

Os cascos de Marengo viraram… objetos de luxo!

Dois dos cascos dianteiros de Marengo foram transformados em caixas de rapé (aquelas caixinhas usadas para guardar tabaco em pó) com montagem em prata e ouro.

  • Um deles foi dado como presente aos oficiais da Brigade of Guards, e ainda hoje faz parte das tradições de mesa no Reino Unido.
  • O outro ficou com a família e, muitos anos depois, foi redescoberto dentro de uma gaveta, numa casa de fazenda na Inglaterra – uma daquelas reviravoltas que só reforçam como essas histórias de cavalos reais se estendem por séculos.

É curioso (e um pouco macabro, vamos admitir), mas também mostra como Marengo virou símbolo – um pedaço físico de um período da história.

Marengo: herói, mito ou marketing?

Com o passar do tempo, alguns historiadores começaram a questionar se todas as histórias atribuídas a Marengo são 100% exatas.

Há quem diga que:

  • Napoleão teve muitos cavalos tordilhos árabes, e que o nome “Marengo” pode ter sido usado para mais de um deles.
  • Algumas batalhas podem ter sido lembradas de forma romântica, misturando fatos e lenda.

Mesmo assim, o consenso é que existiu, sim, um cavalo muito importante chamado Marengo, associado às grandes campanhas do imperador, e que o esqueleto preservado em Londres é apresentado oficialmente como sendo dele.

Ou seja: como tantas histórias de cavalos reais, essa também tem uma camada de mito, mas não deixa de ser real no que importa – o impacto simbólico e emocional.

O que a história de Marengo nos conta sobre cavalos e seres humanos?

Além de ser uma ótima historia com cavalo para contar em roda de amigos apaixonados por equinos, Marengo traz algumas reflexões legais:

1. Nem sempre o “cavalo perfeito” é o maior e mais musculoso

Marengo era pequeno, mas aguentava:

  • tiro
  • frio
  • viagens longas
  • batalhas sem fim

Isso lembra a gente de que resistência, temperamento e coragem contam tanto quanto (ou mais que) aparência.

2. Cavalos vivem a história humana de perto

Às vezes a gente fala de guerras, impérios e fronteiras como se fossem coisas abstratas, mas por trás disso tem sempre cavalos:

  • carregando mensagens
  • levando líderes
  • puxando canhões
  • salvando e, infelizmente, morrendo junto com soldados

Marengo é um símbolo claro de como as histórias de cavalos reais estão misturadas com os grandes acontecimentos humanos.

3. A memória de um cavalo pode durar séculos

Marengo morreu em 1831. Mais de 190 anos depois:

  • seu esqueleto ainda está exposto em um museu;
  • seus cascos viraram artefatos históricos;
  • livros, artigos, vídeos e exposições ainda contam sua trajetória.

Um cavalo pequeno, uma história gigantesca

Marengo pode até ter sido baixinho para os padrões de um cavalo de guerra, mas sua história é enorme.

Ele foi:

  • o cavalo das grandes vitórias
  • o cavalo que sobreviveu a oito ferimentos
  • o cavalo que atravessou meio continente com Napoleão nas costas
  • o cavalo que virou troféu, esqueleto de museu e lenda

Entre tantas histórias de cavalos reais, Marengo mostra que um cavalo pode ser ao mesmo tempo companheiro, soldado, símbolo político e personagem eterno da memória coletiva.