A história do whisky Cavalo Branco não começa na garrafa.
Começa num bar pequeno, numa noite qualquer, quando um rótulo com um cavalo branco decide puxar assunto com você.

O encontro com o Cavalo Branco

Você entra num bar antigo, de madeira escura e luz amarelada.
Garrafa em cima de garrafa, fileiras inteiras. Você pede:

— Um whisky.

O barman não pergunta qual. Só se vira, escolhe uma garrafa e pousa diante de você um rótulo amarelo com um cavalo branco desenhado no centro.

Antes que você leia “White Horse”, uma voz rouca ao lado pergunta:

— Já ouviu a história do Cavalo Branco?

Você vira o rosto. Um senhor de chapéu surrado, mãos marcadas, jeito de quem já montou muito cavalo e já segurou muita rédea. Ele aponta com o queixo para a garrafa.

— Esse Cavalo Branco aí não é só bebida. Tem estrada, tem cavalo, tem guerra e tem poesia.

A estalagem do Cavalo Branco

Onde tudo começa

— A história do Cavalo Branco começa longe desse balcão — diz o velho. — Começa numa estalagem em Edimburgo, na Escócia. O nome dela? White Horse Cellar Inn. Em bom português: estalagem do Cavalo Branco.

Você imagina a cena:

  • Rua de pedra
  • Frio cortando o rosto
  • Diligências chegando e saindo
  • E na porta, balançando ao vento, a placa com um cavalo branco pintado

— Era dali que partiam as viagens de Edimburgo pra Londres — continua ele. — Cavaleiros, mercadores, gente apressada, gente com medo. Quase todo mundo passava pelo Cavalo Branco antes de encarar a estrada.

A família Mackie e o símbolo

— Essa estalagem tinha laço antigo com a família Mackie — explica o velho. — Gente envolvida com comércio, com whisky, com cavalo e com estrada.

Anos depois, seriam justamente eles que colocariam o nome Cavalo Branco num rótulo.

Quando o Cavalo Branco virou whisky

James, Peter e uma ideia

— Aí pula pro século XIX — ele segue. — Entra em cena James Logan Mackie, mexendo com whisky, ligado a destilarias importantes. Uma delas? Lagavulin, lá em Islay.

Você reconhece o nome e presta ainda mais atenção.

— Mas o golpe de mestre vem com o sobrinho, Peter Mackie — diz o velho. — Inquieto, perfeccionista. Em 1890, ele decide criar um blend forte, confiável, com alma escocesa e passaporte carimbado pro mundo. Aí ele lembra da estalagem, da placa, de toda a história… e o nome surge: White Horse, o nosso whisky Cavalo Branco.

O rótulo que guarda uma placa

Você gira a garrafa. O desenho está ali: um cavalo branco em fundo amarelo.

— Esse rótulo é a placa da estalagem renascida — comenta o velho. — O mesmo Cavalo Branco que via gente partir pra estrada agora entra em bar, mesa de família, festa, conversa.

No Brasil, ele lembra, a tradução foi imediata:

— O pessoal nem perdeu tempo com inglês. Virou whisky Cavalo Branco e pronto. Porque é o cavalo que fica na cabeça.

O que o Cavalo Branco guarda na garrafa

Um blend com alma de estrada

Você pergunta:

— E por dentro, o que tem no Cavalo Branco?

— Tem história líquida — ele responde, sorrindo. — O Cavalo Branco é um blended Scotch whisky, mistura de vários maltes e grain whiskies. No meio deles, um coração importante: maltes de destilarias como Lagavulin, que traz aquele toque defumado de Islay.

Ele descreve:

  • Um pouco de fumaça
  • Um pouco de doçura
  • Corpo médio, sem frescura
  • Whisky que funciona puro, com gelo ou em drink

— Não é um luxo intocável — diz o velho. — É whisky de gente real, de bar de esquina e de estante de sala. É o tipo de garrafa que o avô levava pra comemoração, chamando pelo nome: “Abre o Cavalo Branco aí!”

Você dá um gole. Tem sabor de coisa antiga e familiar.

Cavalo Branco em guerra, campo e memória

O Cavalo Branco na Segunda Guerra

O velho apoia o copo e muda o cenário:

— Agora imagina o Cavalo Branco bem longe de bar. Imagina ele numa base aérea, na Segunda Guerra Mundial.

Você fecha os olhos e visualiza:

  • Aviões voltando de missão
  • Tripulações cansadas, tensas
  • Um salão simples, com mapas abertos sobre a mesa

— Depois de voar no fio da navalha, os pilotos sentavam pra fazer o debriefing — continua. — E muitas vezes tinha uma garrafa de Cavalo Branco ali no meio. Um gole pra soltar a língua, outro pra aliviar a cabeça.

Você quase vê o cavalo do rótulo observando tudo em silêncio, sobre a mesa marcada de copos.

Montando o Cavalo Branco

Ele ri, lembrando de outra história:

— Nos Estados Unidos, o técnico de beisebol Joe McCarthy, do New York Yankees, gostava tanto de Cavalo Branco que, quando passava da conta, diziam que ele estava “riding the White Horse”.

— Montando o Cavalo Branco — você traduz mentalmente, rindo junto.

— É ou não é o melhor jeito de falar que alguém exagerou no whisky? — provoca o velho.

A lenda do cavalo que mostra a nascente

Quando o Cavalo Branco vira guia

Ele se inclina, como quem vai contar o segredo mais gostoso:

— Agora vou te contar a parte que pode ser lenda… mas é a minha favorita na história do Cavalo Branco.

A voz baixa um tom:

— Dizem que um dos homens envolvidos na criação do whisky viajava pelos campos da Escócia quando viu, à distância, um cavalo branco solitário. O bicho andava com firmeza, como quem sabe pra onde vai. Curioso, o sujeito resolveu seguir o cavalo.

Você acompanha a cena na imaginação:
campo verde, céu cinza, o cavalo branco à frente.

— O cavalo seguiu, seguiu… até parar perto de uma nascente de água cristalina. Aquela água, diz a história, teria sido usada na produção do whisky. Em homenagem ao guia de quatro patas, o nome Cavalo Branco teria sido selado de vez.

Ele dá de ombros:

— Se é totalmente verdade, pouco importa. Algumas histórias existem pra encantar, não pra serem provadas. E o Cavalo Branco combina demais com esse tipo de encanto.

Cavalo Branco, cavalo de estrada e de história

Do conto à vida real

Você pensa nos cavalos que ama:
árabes cruzando desertos, crioulos na serra, mangalargas nas cavalgadas longas.

Percebe que o Cavalo Branco do rótulo é parente simbólico desses cavalos todos:
é cavalo de estrada, de jornada, de companhia silenciosa.

— Vê como tudo se encaixa? — diz o velho. — O whisky Cavalo Branco nasceu ligado a uma estalagem de viagem, ficou famoso em mesas de guerra, em bares, em livros, em músicas… e hoje continua chegando como quem diz: “tô aqui pra te acompanhar mais um trecho”.

Conclusão – Um brinde ao Cavalo Branco

O velho ergue o copo.
O rótulo com o cavalo branco brilha sob a luz do bar.

— Quando alguém me pergunta sobre o whisky Cavalo Branco, eu não penso só no líquido — ele diz. — Penso na placa da estalagem, nas diligências, nos pilotos cansados, no técnico “montando o Cavalo Branco”, nas famílias brasileiras que têm essa garrafa na memória.

Você levanta o seu copo também.

Por um instante, o bar some.
Você quase ouve o som de cascos na pedra, sente o vento batendo numa placa antiga de madeira com um cavalo branco pintado.

Os copos se tocam.

— Ao Cavalo Branco — ele diz.
— Ao Cavalo Branco — você responde.

E, daquele gole em diante, cada vez que alguém falar em cavalo branco, você não vai lembrar só do rótulo.

Vai lembrar da estrada, da história…
e da noite em que o whisky virou conto.