Ética na lida com os cavSer ético nada mais é do que agir direito, proceder bem, sem prejudicar os outros. Existe alguma relação entre lidar com cavalos e Ética?

Acredito que sim, pois ética está na essência do ser humano, e quando lidamos com cavalos e buscamos uma boa relação com eles, obrigatoriamente temos que ser verdadeiros. Posso construir uma imagem fazendo um discurso de que sou bom com eles, que quero um mundo melhor para a espécie e outras coisas lindas que papel e pessoas aceitam, mas quando entramos em um redondel e lidamos com cavalos, novamente friso, temos que ser verdadeiros, pois se não for assim, qualquer tentativa de construir uma boa relação entre homens e cavalos, vai por água abaixo.

Trabalho com cavalos usando Horsemanship – ou doma natural – como queiram denominar, e assim como ética, é uma filosofia de vida e não uma técnica, tão pouco um código ou treinamento direcionado, está mais ligada a cultura.

Nos últimos dias, fui procurado por uma criatura que tinha um belo discurso, quase me apaixonei. Chegou falando coisas lindas, queria um mundo colorido para os cavalos e tudo mais, mas quando apresentei um de meus cavalos a essa pessoa, “me caíram os butiás do bolso”. Talento é o nome do cavalo, cavalo esse que foi domado por mim e com uma aptidão para o aprendizado como poucos com que trabalhei. Cavalo pra toda lida, meu exemplo de como homens e cavalos, espécies com linguagens tão distintas podem exercer uma comunicação perto da excelência. Deita só com um toque de dedos no joelho, rola, faz careta, sobe em banco, parceiro de laço, faz cavalgadas e outras cositas más. Um lorde. Pois bem, o apresentei para a tal criatura, e para minha surpresa, a primeira coisa que fez foi dar uma varada no “bichano”. “Pera” ai! Como assim! Queria voar na jugular, mas reprimi meu extinto animal, respirei fundo e pedi com educação que saísse de cima para eu mostrar como se pede algo para um cavalo sem o uso da violência. Fico muito incomodado quando uma pessoa não consegue resolver seus problemas com cavalos ou até mesmo com humanos e parte para a violência. Pare, pense um pouco, conte quantas vezes for possível, mas resolva os problemas de uma forma mais inteligente, violência é para os burros – sem ofensa aos quadrúpedes.

Até poderia ser relevante se não tivesse vindo com o discurso colorido, acharia que era por pura ignorância – o que não era o caso -, pois era uma pessoa do meio hípico, “profissional” do ramo, fazia questão de frisar isso. Onde está a ética no caso? Qual a relação em sentir a necessidade de ser ético, querer ser e saber ser? Não vi coerência nas atitudes da pessoa.

Recentemente li um livro sobre ética na gestão empresarial, de Francisco Gomes de Matos, em uma parte do primeiro capítulo, na página cinco ele diz: “Dizer-se ético é o que o marketing tenta nos convencer exaustivamente. Ser ético é questão de filosofia de vida e de empresa.” Por isso, não me venham mascarados de pessoas boas apenas para mostrar ser o que não é, vejam a necessidade, queiram ser verdadeiramente, e busquem o aprendizado para saber ser. Somente assim peçam para montar meus cavalos.

Texto escrito por Sandro Fucolo, treinador Horsemanship.