Nos primórdios da introdução do sangue chileno em manadas crioulas brasileiras, a vinda de Don Alberto Araya à Expointer/76 com os garanhões La Invernada El Buitre, Pozo Azul Chacao e La Invernada Hornero representa, hoje, o marco histórico mais importante da Raça crioula funcional.

El Buitre, que obteve o melhor preço dentre os três chilenos, foi adquirido por Lauro Tavares, de Bagé. E a produção deste garanhão ficou meio perdida na caminhada funcional.

Chacao foi disputado entre Martim Sarmento – que dava seus lances em nome do saudoso Belisário Sarmento, pai de Renato e Manuel Rossell Sarmento, da Estância São Francisco de Bagé – e o grupo de criadores jaguarenses formado por Luis Carlos Albuquerque, Cel. Bayard Bretanha Jacques e Fernando Afonso.

Venceu Jaguarão. E o Chacao se consolidava como pai de cabanha, ao elevar o criatório daquele município gaúcho a níveis de altíssima qualidade funcional, e talvez, por isso, berço das exposições funcionais da Raça Crioula no Brasil.

Já o tordilho chileno, que tinha rodado na prévia – sendo proibido de participar na exposição, devido a um caroço em seu anterior -, entrou em pista de leilão como um favor especial a Don Alberto Araya. E foi Adquirido em parceria por Dirceu Pons e Flávio B. Tellechea, pela quantia – equivalente è época – de U$ 10.000 – Naquele momento, a nata das éguas da Paineiras era servida por La Invernada Aniversário, adquirido por Flávio Tellechea, em parceria com o Dr. Luis Bastos, em Palermo, após ter vencido a Prova de Rédeas na exposição argentina.

Para Hornero, solto num potreiro, sobravam 30 ou 40 fêmeas, em sua maioria de fora.

Mas a sorte do tordilho chileno estada fadada a mudar.

Numa Prova de Rédeas acontecida no Plano Alto – paragem situada entre Uruguaiana e Itaqui – um cavalo zaino de excelente performance chamou a atenção de Flávio Tellechea, que atuava como jurado. E para esse exemplar, foi que ele deu o campeonato.

Indagando sobre sua origem, com o proprietário, o Dr. Flávio veio descobrir que o tal cavalo zaino era um filho de La Invernada Hornero.

Talvez aqui esteja o segundo grande marco da história funcional da Raça Crioula no Brasil. E a modernidade deste história, todo crioulista conhece.

Mesmo barrado na prévia, mesmo sem participar, ele próprio, em qualquer evento funcional ou morfológico, a qualidade do tordilho se impôs pelos seus descendentes.

E a sua vitoriosa progênie o colocou no mais alto escalão do Registro de Méritos da Raça Crioula.

Hornero ditou normas, na morfologia e na função, modificou o criatório e trouxe para a Raça o ansiado biótipo, que brilhou em exposições e, fundamentalmente, na prova máxima: o Freio de Ouro.

Na última Expointer, a notícia de sua morte abalou a família crioulista. E fica no ar a pergunta, que muitos se faziam há bastante tempo: Quem vai ser o sucessor deste garanhão, que foi um marco de destaque na Raça Crioula?

“Os grandes inventos sempre aconteceram nos momentos de grande dificuldade” – aponta Gilberto Loureiro de Souza, superintendente do Registro Genealógico da ABCCC.”

“Faço esta afirmação reconhecendo a perda de Hornero como um momento de grande dificuldade”.

“Uma perda importantíssima. Porque Hornero significou pra mim – nada mais, nada menos – que a revolução funcional dentro da Raça Crioula. Pela supremacia que ela estabeleceu desde o início do Freio de Ouro”.

“Mas no decorrer do percurso, nós sentimos que apareceram algumas linhagens com a capacidade de enfrentar – embora em inferioridade de número – e de derrotar, os descendentes do Hornero.”

“Essa hornerização que sofreu grande parte do criatório nacional, ela sofreu um grau de qualificação, pela mistura de seu sangue, nos plantéis com maior grau de qualificação funcional. Que os tornou aptos a necessitar de animais, de repente não tão qualificados funcionalmente, para seguirem no trânsito”.

“Do tempo que trabalhei com outras raças – tive muito tempo ligado profissionalmente ao cavalo de carreira – e escutando, e convivendo com profissionais que mexiam no campo dos acasalamentos, que mexiam no campo da genética; sempre escutei duas coisas que valorizo muito e que procuro passar aos outros:

1) “O valor híbrido – é dizer, o choque entre linhas – é o que faz acontecer as coisas”.

“Por quê que Hornero andou barbaramente no Brasil?”

“Porque ele era dotado de uma linhagem capaz de evolucionar funcionalmente. E veio a ser usado em éguas que não tinham, absolutamente, a ver com ele. Mas que nós tínhamos a mesma pretensão de aptidão funcional”.

“Qual é a minha ótica hoje? Eu usaria todas as descendentes de Hornero, no acasalamento, com animais com a mesma aptidão funcional, com requinte e qualificação morfológica semelhantes”.

” E eu tenho certeza que – no momento que se buscar dois indivíduos que tenham a mesma aptidão funcional e que tenham biótipo próximo – se pode voltar a dar o choque e fazer com que novamente surja um valor híbrido forte”.

2) “Sabendo que a função é de alta hereditariedade poderemos, e deveremos, seguir com animais funcionalmente importantes à nossa disposição”.

“É lamentável a perda”.

“Mas, por sorte nossa e por sensibilidade de uma grande maioria, vários ficaram abastecidos dessa genética maravilhosa que esse cavalo nos proporcionou”.

Adeus grande tordilho, que – mesmo barrado para exposições – galgaste o mais alto posto nos méritos da Raça.

Adeus, tordilho chileno, que nos destes a honra de revolucionar e cimentar um biótipo procurado, sabendo que – nele – os criadores encontrariam a realização funcional e morfológica.

Adeus Hornero, Tordilho de Ouro. O futuro a Deus pertence, mas – pela tua história – teu sangue ficará indelével para sempre nas páginas da nobre Raça Crioula brasileira.

Jornal Redomão – Ano X

Janeiro/Fevereiro 1998 – Pág. 19